A brasileira Adriana Cruz estava consciente e com a saúde mental
perfeita quando afogou um de seus filhos em uma jacuzzi. A afirmação
deve constar no inquérito do caso, que chocou a Argentina nesta semana.
Após analisar as provas colhidas pelo Ministério Público na casa onde
ocorreu o assassinato, o juiz Juan Pablo Masi afirmou que Adriana pode
ser condenada à pena máxima, a prisão perpétua. A brasileira, que vive
na Argentina há 16 anos, tirou a vida do filho Martín, de 6 anos, na
noite de quarta-feira, porque queria se vingar do ex-marido, argentino.
A imprensa local divulgou ontem imagens do interior da casa onde o
menino morreu, em San Vicente, próximo a Buenos Aires. Nas paredes do
banheiro, é possível ver palavras como “psicopata”, “manipulador” e
“mentiroso”, em referência ao pai da criança. O promotor Leandro
Heredia, responsável pela acusação, acredita que Adriana tenha tirado
Martín da cama e tentado asfixiá-lo. Como não conseguiu, afogou-o na
jacuzzi. Há marcas no pescoço do garoto que sugerem resistência ao
estrangulamento. “Supomos que ela matou o menino e depois se dedicou a
escrever nas paredes com spray. Por fim, tomou ansiolíticos”, disse
Heredia ao Clarín. O corpo foi encontrado por uma empregada que
trabalhava na casa. Ao lado estava Adriana, inconsciente.
Em entrevista ao canal C5N, o juiz Juan Pablo Masi disse que a pena
máxima “é a única opção” nesse caso. “Se considerarmos que um divórcio
tortuoso é justificativa para matar uma criança, não sobraria nenhuma,
porque a maioria dos divórcios tem algo de tortuoso”, afirmou ele.
Adriana enfrentava um divórcio litigioso desde novembro. Ela era casada
com o contador argentino Carlos Vázquez, de quem se separou após
descobrir uma traição. “Por mais que existam infinitos atenuantes, a
reclusão perpétua é a única alternativa”, defendeu Masi.
O juiz também afirmou que a confissão do crime feita a um jornalista
argentino deve ser usada no inquérito. Quando perguntada por um repórter
da Telefé sobre a morte do filho, Adriana confirmou o crime e
justificou-se com um palavrão: “Matei-o para f… o pai dele”. A
brasileira vai responder por homicídio doloso, agravado pelo fato de ser
mãe da vítima e por ter cometido o crime por motivo fútil. “Aqui, a
mãe, no estilo da personagem grega Medeia, mata o filho para castigar o
esposo infiel que a deixou por outra. Ela é passível de perpétua, a
maior pena que temos”, reforça o especialista em direito criminal
Ricardo Rabinovich-Berkman.
Histórico
A defesa deve argumentar que Adriana estava perturbada com a separação —
ela já passou algumas semanas em uma clínica psiquiátrica. O analista
forense Roberto Meza Niella acredita, porém, que isso não vai amenizar a
situação da brasileira. “Ela deu declarações bastante contundentes
sobre os motivos que a levaram a matar o menino”, ressalta, em
entrevista ao Correio. “Os peritos psiquiátricos também já determinaram
que ela está muito ciente do tempo e do espaço.” Outro aspecto que deve
pesar é que o ex-marido já havia prestado queixa contra ela, por ameaça
aos filhos. “Mas, se for comprovado que nada foi feito pela polícia, o
Estado também pode ser responsabilizado”, acrescenta o perito Roberto
Niella.
Correio Braziliense
Publicação: 24/03/2012 02:00
